Dr. M. MATTEDI
Universidade Regional de Blumenau
A COVID-19 está mudando as nossas vidas. Isto acontece porque a melhor maneira de conter a COVID-19 constitui o Distanciamento Social. Porém, o Distanciamento Social provoca um forte stress coletivo porque afeta profundamente as condições de vida das pessoas. E como não existe uma fronteira precisa entre a normalidade e a anormalidade é inegável que o Distanciamento Social vai mobilização direta ou indiretamente toda a sociedade. Nessas circunstâncias é previsível que milhões de pessoas terão seu modo de vida alterado. Por isto, todos nós queremos a Situação de Emergência acabe e que vida social volte ao normal o mais rapidamente possível.
Ocorre, contudo, que toda Situação de Emergência provoca um ajustamento social. Isto acontece porque numa Situação de Emergência as pessoas são forçadas a readequarem rotinas de interação social. Este processo diz respeito a passagem das normas estabelecidas (institucionais) para as normas emergentes (alternativas) na população afetada. As normas emergentes são estruturas abrangentes que estabelecem os limites do que é apropriado fazer e não fazer. Assim, o pressuposto básico é que este ajustamento social constitui uma adequação a ambiguidade que acompanha a sobrevivência e a insegurança nos períodos pré, trans e pós-impacto.
Assim, embora a experiência da COVID-19 seja nova, o ajustamento social em Situações de Emergência está entre os tópicos de pesquisa mais bem estudados na sociologia dos desastres. Neste sentido, obedece a sequência que caracteriza todas a Situações de Emergência (antes, durante e depois). Por isto, é possível generalizar os modelos explicativos para o comportamento das pessoas diante da COVID-19. Por conseguinte, assinala que os grupos sociais em condições de incerteza os domicílios constituem as unidades deliberativas básica. Portanto, tendem ajustar as recomendações governamentais a luz de suas próprias prioridades.
Neste sentido, o Distanciamento Social também favoreceu a emergência de normas social. É que como toda a Situação de Emergência, também a COVID constitui a função entre incidência e tempo. Neste sentido, é descrita por meio de uma Curva de Contágio: Egressão, Aceleração, Desaceleração, Egressão. Em termos espaciais este processo envolve a passagem da incidência localizada a generalização espacial e controle. Assim, considerando as normas emergentes em vários países é possível diferenciar quatro fases principais de convívio com o Distanciamento Social: a) Ativação; b) Adaptação; c) Negação; d) Desativação.
a) Fase de Ativação: momento de comoção diante da experiência extraordinária. Se ponto de vista da população a novidade se materializa no processo de reestruturação das atividades cotidianas; do ponto de vista governamental se caracteriza principalmente pela desorganização e pelo improviso diante da situação. Neste sentido, a diminuição da intensidade das interações sociais diretas é substituída, inversamente, pelo aumento das interações nas mídias sociais. A ameaça de contágio parece algo distante e a sensação é de que a rotina deve voltar rapidamente ao normal. Portanto, compreende a fase de ajustamento ao Distanciamento Social.
b) Fase de Aceitação: período em que a experiência deixa de ser novidade. Constitui a fase no qual a sociedade vai aprendendo a conviver e normalizando a Situação de Emergência. Neste sentido, a situação se inverte na medida em que a capacidade de ação governamental aumenta, enquanto as soluções domésticas vão se esgotando. É o momento em que a ameaça se aproxima, pois a impessoalidade dos números vai sendo progressivamente substituída pela pessoalidade dos nomes. O excesso de informações faz, paradoxalmente, cair a intensidade dos contatos nas mídias sociais. Portanto, trata-se da fase de resignação ao Distanciamento Social.
c) Fase de Irritação: etapa no qual as pessoas começam se inquietar com a experiência. A intensidade da vida doméstica tensiona os relacionamentos íntimos e a indignação com as ações governamentais se multiplicam. Neste sentido, o Distanciamento Social se torna uma experiência socialmente insustentável. Isto significa que o sofá se torna um lugar desconfortável e as mídias sociais reverberam o descontentamento. Isto acontece porque os custos emocionais e financeiros começam a se tornar mais evidentes. Trata-se, consequentemente, de uma fase de angústia generalizada porque ninguém sabe a duração do isolamento.
d) Fase de Desativação: refere-se ao período que se caracteriza pelo fim da experiência. As pessoas começam a retomar sua rotina e o governo desloca progressivamente o foco das ações para os problemas sociais rotineiros. Um misto de alívio com o fim do Distanciamento Social e, ao mesmo tempo, angústia com as consequências. Por um lado, este processo depende muito de como a gestão do Distanciamento Social foi conduzido pelo governo; por outro, os esforços de solidariedade e a sensação de comunidade desaparecem. Este processo envolve, portanto, o reestabelecimento das rotinas e dos modos de vidas.
Por um lado, é preciso assinalar que a duração das fases varia, evidentemente, em função das características do contexto social. Isto significa que a duração das fases constitui uma propriedade de como o Distanciamento Social é, ao mesmo tempo, implementado governamentalmente e incorporado pela população. Neste sentido, a eficácia do Distanciamento Social do ponto de vista sanitário implica a intensificação do isolamento na população. Assim, quanto mais eficaz o Distanciamento Social, mais longo e rigoroso o isolamento físico. Consequentemente, o stress coletivo aumenta em função da extensão do Distanciamento Social.
Por outro, também quanto maior a exposição ao risco, maior a pressão causada por cada fase de Distanciamento Social. Isto significa que as fases tendem a variar também em função das características de cada grupo social. Este processo acontece porque os grupos respondem as recomendações de Distanciamento Social em função de sua estratificação social. De maneira geral, a forma como os grupos sociais recebem, processam e reagem as informações sobre o risco da COVID-19 está relacionada a disponibilidade de recursos. Assim, as fases se expandem ou se contraem em função dos recursos necessários para manter o isolamento físico.
Ou seja, a cronologia das Fases do Distanciamento Social combina momentos de urgência das diretrizes recebidas instantaneamente com a lentidão do nosso modo de vida. Por isto os efeitos emergentes provocados pelo isolamento físico no contexto social precisam ser considerados de forma diacrônica. Assim, como todo problema social não rotineiro também a COVID-19 força as pessoas a encontrar novas formas de interação social. Isto nos permite supor a emergência de novas normas sociais. Por isto, não é de todo prematuro inferir que a cronologia das Fases do Distanciamento Social constitua um processo social contínuo e muitas vezes sobrepostos.
As interações sociais que eram significativas no passado continuam sendo no presente e, provavelmente, também no futuro. Porém, é preciso reconhecer também que depois da Fase de Desativação elas nunca mais serão as mesmas. Isto acontece, fundamentalmente, porque a normalidade na vida social simplesmente não existe... A vida mudou muito nas últimas semanas e vai continuar mudando. Afinal, ela sempre muda. Assim, não custa muito admitir que as Situações de Emergência existem porque as mudanças sociais não podem parar. Isto indica, portanto, que o ajustamento social constitui um processo contínuo.
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