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A Sociedade e suas dinâmicas: o pensar entre o material e o simbólico

D.ra Maria

Dra. Maria Rossi

(Ensaio)


A sociedade é um organismo dinâmico, composto por relações sociais, normas, valores e estruturas materiais. Frequentemente, o senso comum a percebe como algo estável, onde as pessoas apenas seguem regras e costumes. No entanto, a sociologia nos convida a olhar além dessa visão simplificada e a compreender as forças que moldam a vida em sociedade.


O que define a Sociedade?


A sociedade não é apenas um conjunto de indivíduos, mas uma rede complexa de relações entrelaçadas por normas, valores e instituições. De acordo com Anthony Giddens (1984), as estruturas sociais são ao mesmo tempo meio e resultado das ações humanas, criando um ciclo contínuo de reprodução e transformação social. Assim, entender a sociedade exige analisar tanto as instituições que regulam a vida coletiva quanto as formas de resistência e mudança que emergem dentro delas.


Relações Sociais e Organização Coletiva


As relações sociais representam as interações diárias entre indivíduos e grupos, estruturadas por normas e valores compartilhados. Essas interações moldam padrões de comportamento que se refletem em instituições como escolas, empresas e famílias. Conforme Michel Foucault (2000), o poder permeia todas as esferas sociais, influenciando como as pessoas interagem e se organizam.


A organização coletiva surge dessas interações e se manifesta por meio de hierarquias, formas de cooperação e conflitos. Em um ambiente de trabalho, por exemplo, há relações de poder entre gestores e funcionários, que determinam dinâmicas de controle e colaboração. Ao mesmo tempo, essas estruturas não são fixas: trabalhadores podem contestá-las, criar redes de apoio e provocar mudanças.


O papel dos recursos e da infraestrutura


Os recursos naturais e econômicos são a base material da sociedade, influenciando desde a distribuição de bens até as relações de poder. Para Karl Marx (2010) o controle sobre esses recursos define a estrutura de classes e as desigualdades sociais. Da mesma forma, a infraestrutura e a tecnologia desempenham papel extremamente essencial hoje, possibilitando avanços na comunicação, na produção e no transporte.


A urbanização e a moradia são outros elementos fundamentais. O crescimento desordenado das cidades pode gerar desigualdades espaciais, com áreas carentes de infraestrutura básica, enquanto iniciativas governamentais, como programas habitacionais, objetivam minimizar esses impactos. Isso acontece de fato? Ou estamos muito aquém de conseguir transformações reais que possam reduzir desigualdades garantindo justiça e equidade social?


A cultura, as normas e os valores construídos ao longo do tempo


A cultura é um dos elementos centrais da vida em sociedade, refletindo identidades e relações de poder. Segundo Antonio Gramsci (2008), a hegemonia cultural é uma forma de dominação que legitima determinadas estruturas sociais. Ao mesmo tempo, a cultura é um espaço de resistência, onde tradições, festivais e práticas cotidianas desafiam narrativas dominantes e criam novas formas de pertencimento. Também explicitam contradições e formas diversas de se pensar e viver.


Normas e regras sociais regulam o comportamento dos indivíduos, mas não são neutras. Michel Foucault (2000) argumenta que essas normas moldam subjetividades e produzem formas de controle. Entretanto, essas regras também podem ser contestadas, como demonstram os movimentos sociais que lutam por direitos e justiça social.


O material e o simbólico: uma relação indissociável


Os aspectos materiais e simbólicos da sociedade estão interligados. O dinheiro, por exemplo, tem um valor material, mas sua real importância deriva do significado simbólico que lhe atribuímos: poder, status e segurança. Da mesma forma, a tecnologia não é apenas um conjunto de ferramentas, mas um elemento que redefine identidades, relações de trabalho e dinâmicas sociais.


Redes sociais, mudanças climáticas e transformações no mercado de trabalho são exemplos contemporâneos dessa interseção. O avanço da economia digital, por exemplo, altera tanto a estrutura produtiva quanto a percepção do que é trabalho digno. Movimentos sociais, por sua vez, questionam valores estabelecidos, promovendo novas formas de organização e resistência.


Considerações Finais


É urgente repensarmos a forma com vivemos em sociedade. Compreender a sociedade exige ir além das aparências e analisar criticamente suas estruturas e dinâmicas. A relação entre aspectos materiais e simbólicos é essencial para entender como as desigualdades são reproduzidas – e como podem ser transformadas. Ao refletirmos sobre essas questões, abrimos caminhos para uma sociedade mais justa e consciente de suas contradições e possibilidades de mudança.


Referências

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Petrópolis: Vozes, 2000.

GIDDENS, Anthony. The Constitution of Society: Outline of the Theory of Structuration. Berkeley: University of California Press, 1984.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010.

 

 
 
 

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